domingo, 2 de dezembro de 2007

Venezuela denuncia operação alicate

A inteligencia venezuelana vazou um documento que teria sido escrito no último dia 20 de novembro pelo funcionário Michael Steere, da embaixada yankee na venezuela e enviado ao diretor da CIA.

Ponho aqui a tradução feita pelo Luiz Carlos Azenha em seu site, que segundo ele, está sujeita a erros, mas nada que altere profundamente o seu conteudo.

"MEMORANDO CONFIDENCIAL

De: Michael Middleton Steere, Embaixada dos Estados Unidos

Para: Michael Hayden, Diretor da Central de Inteligência Americana

Assunto: Fase final da Operação Alicate

Levando em consideração os documentos anteriores sobre a Operação Alicate, que coordena o HUMINT [Human Intelligence, setor de inteligência humana] de acordo com a ordem 3623-g-0217, cumpro informá-lo o status atual da operação, que se encontra em fase final.

De forma resumida, apresento os diversos cenários descritos nos memorandos anteriores, os quais nas últimas semanas adquiriram novos contornos:

Cenário Eleitoral

Tal como informei no memorando anterior, as tendências de intenções de voto se mantém. Até agora as distintas medições realizadas, incluídas as nossas, dão ao SIM uma vantagem entre 10 e 13 pontos (57% SIM, 44% NÃO). Tal estimativa percentual se dá num marco de abstenção em torno de 60% dos eleitores inscritos. Nossa análise observa que essa é uma tendência irreversível no curto prazo, ou seja, nos próximos 15 dias não se pode modificar de maneira significativa.

Por outro lado, a campanha publicitária promovida pelo Plano e as deserções nas fileiras governamentais (Podemos-Baduel, por exemplo) conseguiram tirar de Chávez seis pontos em sua posição inicial, tal como não havia acontecido em outras campanhas, quando ele partiu com uma vantagem de 15 a 20%.

[...]

Nesse sentido, este escritório recomenda executar o previsto no plano da Operação Alicate, no caso de consolidar-se nos próximos dias este cenário. Como é de seu conhecimento temos proposto um elenco de respostas, dentre as quais estão:

- Impedir o plebiscito ou desconhecer o resultado enquanto, ao mesmo tempo, se faz a campanha do NÃO.


Em termos de orientação tática, pode parecer contraditório, mas para o momento político conjuntural é necessária a sua combinação. Nos dias que faltam podemos fortalecer as atividades que podem impedir o plebiscito e ao mesmo tempo preparar as condições para desconhecer os resultados.

No caso de não reconhecimento dos resultados, é importante a criação de uma matriz de opinião sobre a vitória do NÃO e em tal sentido continuaremos trabalhando com as empresas de pesquisas que contratamos. Ao mesmo tempo que mantemos a campanha pelo NÃO, trabalhamos na crítica ao CNE [TRE venezuelano] e sua conexão com uma série de fraudes, o que gera na opinião pública a sensação de fraude. Nesse sentido temos insistido nas inconsistências do registro eleitoral permanente, mantivemos contato com uma equipe de especialistas de universidades, que por seu prestígio acadêmico dá credibilidade à teoria de uma manipulação de dados por parte do CNE, além de lançar dúvidas sobre a tinta [usada para marcar quem já votou] e o comportamento das máquinas de votação.

Nesse contexto, confundir o ato de votação no dia 2 de dezembro se integra com a campanha do VOTA e PERMANEÇA [pela qual os antichavistas não se dispersariam], para produzir uma implosão que nos permita executar a ordem já estabelecida na Operação Alicate. Neste último aspecto combinamos com forças aliadas dar informações nas primeiras horas da tarde de domingo, 2 de dezembro, explorando as sondagens preliminares nas mesas de votação. A operação montada requer uma coordenação dos meios de comunicação a nível internacional, de acordo com o combinado.

Como explicamos em outro documento, trabalhar com estes dois cenários não deixa de ser politicamente perigoso, pela divisão que existe nos grupos opositores. Apesar de nosso esforço para unir a todos os setores, há opiniões contrárias a alguns aspectos de nosso Plano. Fizemos contatos e reuniões com o Primeiro Justiça e Novo Tempo e parece que não vão apoiar nossa estratégia. Ao contrário do Comando Nacional de Resistência e da Ação Democrática, com quem temos trabalhado as duas opções. Aqui é necessário ressaltar o papel que vem sendo desempenhado por Peña Esclusa e Guyon Cellis, de acordo com a coordenação prévia de Richard Nazario, com o objetivo de disseminar em todo o território nacional pequenos focos de protesto, que gerem um clima de ingovernabilidade, permitindo a revolta geral de uma parte substancial da população.

Desta forma, considero conveniente que a operação seja canalizada para o escritório, evitando complicações para a Embaixada.

Tarefas imediatas:

A combinação das atividades anteriores (impedir o plebiscito, denunciar a fraude e ocupar as ruas) resultará no encerramento vitorioso de nossa operação se sustentarmos o esforço diplomático para isolar ainda mais Chávez no terreno internacional, unir a oposição e buscar uma aliança dos abstencionistas com os que votam pelo NÃO; aumentar a pressão nas ruas nos dias que antecedem o 2 de dezembro; executar ações militares de apoio às mobilizações e tarefas propagandísticas; e completar a preparação operacional de nossas forças.

O apoio das equipes externas vindas do país verde e azul está coordenado, a ação marítima do azul está prevista e a fronteira com o verde, nos pontos determinados, está livre.

Seguem as tarefas realizadas para cumprir com as metas:

Quanto às mobilizações de rua, tal como contempla o plano, conseguimos persuadir importantes setores estudantis para as mobilizações, ligados a instituições educativas privadas, para que se incorporem organicamente à nossa inciativa de destituir Chávez. Na terceira semana de novembro conseguimos um acordo com os líderes emergentes que acolheram nosso ideário de democracia e liberdade.

[...]

Como você sabe, um dos objetivos da Operação Alicate é controlar uma franja territorial ou institucional, com apoio maciço dos cidadãos descontentes, em um período de 72 a 120 horas, tempo estimado como mínimo para detonar a fase seguinte das ações previstas, dentre as quais um pronunciamento militar.

[...]

Na esfera da propaganda e das operações psicológicas contempladas no plano em curso é onde temos tido o maior êxito, a ponto de que nas últimas semanas impusemos a nossa agenda, dominando a cena publicitária. O papel da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) e das agências internacionais tem sido chave.

[...]

Neste último aspecto [financeiro] devo informar-lhe que dos 8 milhões que foram transferidos quase tudo foi gasto em propaganda, publicidade e contribuições a algumas organizações de fachada. Neste último caso temos tido dificuldades com a Development Alternative INC, já que a inteligência inimiga acompanha nossa conexão com o senhor Gerson Patete e tem monitorado a conta corrente do Banco Mercantil, No 0105-0026-59-102636243-1. É
urgente seguir fazendo transferências para essa conta e estabelecer outro canal para o financiamento contemplado nessa fase da Operação Alicate."

A jornalista americana Eva Golinger, resumiu os objetivos tratados neste documento e identificou os países verde e azul, como Colômbia e Curaçao, este último faz parte das Antilhas, na costa venezuelana. Faço aqui minha tradução de seu resumo, também sujeita a erros, mas nada que vá alterar o contexto das suas palavras.

Para poder impediro referendo, a CIA propõe as seguintes ações:

  • Aquecer as ruas e levar fogo e "velas" [barricadas e incêndio de pneus, por exemplo].
    Criar um clima de ingovernabilidade.
  • Provocar um levantamento geral de uma parte substancial da população "Vota e cái", plano de implosão dentro dos centros de votação.
  • Começar a dar informações nas primeiras horas da tarde de domingo, 2 de dezembro, explorando pesquisas boca de urna.(Em violação das normas da CNE, equivalente ao TRE brasileiro).
  • Coordenar tudo isto com os meios de comunicação nacionais(Ravell, Globovisión e RCTV) e internacionais.

Pada poder desconhecer os resultados do referendo, a CIA propõe o seguinte:

  • Criar uma fonte de opinião de uma suposta vitória do "NÃO".
  • Usar espiões contratados pela CIA.
  • Criticar e desligimiar a CNE.
  • Criar uma sensação de fraude.
  • Usar experts das universidades que fazem acreditar em uma manipulação da informação pela CNE, Registro Eleitoral Permanente(REP) e a tinta que se utiliza durante a votação para marcar quem votou.

Além disso o memorando da CIA, escrito pelo funcionário Michael Steere, proclama a necessidade de executar estas ações para poder atingir seu objetivo:

Impedir o referendo.

Denunciar uma fraude

  • Impedir el referéndum.
  • Denunciar el fraude.
  • Tomar as ruas.
  • Isolar ainda mais Chavez no âmbito internacional.
  • Buscar a aliança dos abstencionistas e dos que votaram pelo NÃO.
  • Sustentar com firmeza a propagandacontra Chavez.
  • Executar ações militares de apoio a mobilização e a propaganda.
  • Concluir as operações militares nas bases miliates de Colômbia e Curaçao
  • Impulsionar um pronunciamento militar dentro da guarda nacional
Chavez garante que se perder, se afastará da política permanentemente, enquanto se ganhar, a CIA e a oposição prometem incendiar o país e o mundo. Em resposta, Chavez proferiu que se ganhar e tais medidas de contingencia previstas no memorando se confirmarem, suspenderá imediatamente as exportações de petroleo para os yankees, o que me faz pensar que estes planos foram descartados por parte de Washington.

[Fontes: São dezenas, procure no google venezuela + "Operação Alicate" ]

Hoje plebiscito decide pela reforma da constituição venezuelana

É chegado o dia do povo venezuelano decidir pela aprovação ou não das alterações na constituição bolivariana. O ítem mais relevante da alteração trata da reeleição indefinida para presidente.

Vamos analisar a sequência de eventos que convergiram no atual quadro político venezuelano.

15 de agosto de 2004, acontecia o plebicito que decidiria pelo SIM(retirada de Chavez da presidencia) ou pelo NÃO(permanência de Chavez). Este pleito foi conseguido pela oposição, Chavez acatou prontamente que o povo pudesse decidir. Na minha opinião a atribuição do SIM para a retirada e do NÃO para a permanencia, já configura em si, manipulação.

A votação encerraria as 17:00. A constituição de lá, como a daqui e da maioria dos países democráticos, proibe a veiculação na mídia de pesquisas boca de urna no dia das eleições, em alguns países alguns dias antes. O motivo é perfeitamente compreendido até para o mais leigo em política. As pesquisas de última hora passam a impressão de resultado parcial, de que a coisa já está tomando forma e mostra que forma esta tomando. E isso tende a influenciar no voto dos que ainda não votaram. Entretanto, trinta minutos antes do horário previsto para o fim da eleição, foi divulgada em Nova Iorque, pela empresa Penn, Schoen & Berland Associates, uma pesquisa de boca de urna. Dando Chavez como derrotado por 59% dos votos. Como a lei que proibe a divulgação de resultados de pesquisas boca de urna é da venezuela e a divulgação foi feita a partir de Nova Iorque, nenhuma medida judicial pôde ser tomada.

Mas... meia hora depois encerraram-se as eleições. Vale aqui abrir um imenso parenteses. O sistema eleitoral venezuelano dá um banho no brasileiro e um maior ainda no norte-americano. Lá as urnas são eletrônicas e pra resolver o problema com fraudes as quais um dispositivo eletrônico está submetido, posto que não é possível vigiar os bits, todas as urnas imprimem um comprovante, que é verificado pelo eleitor e depositado em uma urna, para recontagem. A permanencia de Chavez ganhou com 58,25%. Quer dizer que em meia hora de votação Chavez passou de 41% para tudo isso? - estranho!

Se a divulgação de pesquisas com resultados suspeitos não consegue influenciar suficientemente os votos, como foi o caso, ainda tem um plano B intrinseco a estratégia. Porque criam no país e no mundo uma atmosfera de desconfiança e de suspeita de fraude. Dando motivos artificiais para intervenções até mesmo militares naquele país, manifestações, fomentando golpes em potencial. 20% pra menos, senhores, em uma pesquisa que dizia ter erro de +/- 1%, é uma discrepância no mínimo suspeita.

Dia desses conheci o site do Luiz Carlos Azenha, que tem um título muito similar ao meu: O que você nunca pôde ver na TV, mais reticente que o meu título, por motivos óbvios, ele é um conceituado reporter de TV e faz disso seu sustento. Atenção aqui para o circunfléxo no pôde, evidenciando que você não pode, não porque não dá tempo, mas porque existe um filtro imposto pelos tentáculos neoliberais estendidos sobre todos os meios de comunicação.

Lendo o que ele escreveu na última quarta, dia 28 de novembro, você poderá verificar outras ocasiões em que pesquisas foram grossamente manipuladas em favor de uma 'força terrível' da mesma natureza daquela força que obrigou o Jânio a renunciar quando condecorou Che com a Grã-Cruz da ordem Cruzeiro do Sul.

Agora nas vésperas das eleições Chavez afirmou que se a imprensa yankee tornar a divulgar prematuramente resultados de pesquisas boca de urna: A resposta será o corte no fornecimento de petroleo para lá.

E que se a Globovisión veicular, sob as mesmas circunstâncias, estas informações dentro da Venezuela, cortará imediatamente o seu sinal. Com razão, na minha opinião, lei é lei. Se o criminoso está em outro país, não pode estar livre pra interferir como bem entender na política internacional dos outros. Cabe a venezuela decidir que tipo de sansões fará, assim como os yankes, embargam Cuba a decadas a seu bel prazer. Cada país deve ter soberania para decidir sua própria política e o destino que dará para seus recursos naturais.

Será que se isso acontecer vão tornar novamente a ignorar as causas que levam Chavez a dizer o que diz e fazer o que faz? Pintando na grande mídia um retrato de um desajustado, que "ameaça" os Estados Unidos porque é complexado e a Colombia porque tem sede de sangue?

Ele disse, dia desses, que se a população assim quiser e se ele tiver saúde, continua no governo até 2050. Porquê dizem que isso é ditadura? Onde, nas teses de aristóteles, citam 4,5 ou 8 anos de mandato? Vejam bem leitores, se em 2013 as coisas não estiverem indo bem a população vota em outro candidato e o Hugo Chavez sai, simples! É democracia sim!

Tentando entender Chavez remotei ao tempo em que Simón Bolivar controlava o Peru e o tinha livrado do domínio espanhol. Naquele momento a situação do Peru ainda estava muito instavel, e o próprio Bolivar, se revelou preocupado com o futuro daquele povo. "Quando eu sair o Peru se perde novamente." Creio que Chavez agora deva estar pensando igual. Ele mesmo disse que preferia se aposentar mas não o fará porquê ainda vai demorar para o socialismo que ele propõe se consolidar. E se o povo quer que esse novo modelo de socialismo se consolide e ele(o povo) não encontrar outro candidato que a seus olhos possa dar continuidade ao desenvolvimento deste modelo: Os venezuelanos deveriam ser obrigados a engolir o candidato menos pior porque não têm o direito de votar novamente em Chavez?

Se a oposição quer governar que gaste seu tempo se aproximando do povo, que apresente propostas melhores, que governe as cidades e estados à seu modo, que ganhe eleitores e derrote Chavez. Mas não, preferem fazer do Chavez um adolf hitler e dos Chavistas o eixo-do-mal.

Só sei de uma coisa: a população venezuelana adquiriu consciência de classes e Chavez fará, resguardado pelos cidadãos, o que quiser. Eles decidem, ninguém tem que dar pitaco em nada. E plebiscito é exemplo de democracia. Quem defende democracia à moda yanke, defende também a medida provisória, que é, de uma forma elegante, um jeito de governar sem apoio popular, um mecanismo autoritário de fazer ditadura.